sexta-feira, abril 29, 2005

Saudações cosmopolitas!

Ergue-te contra o governo, contra deus.
Continua irresponsável.
Diz apenas o que nós sabemos e imaginamos.
Os absolutos são coercivos.
A mudança é absoluta e constante.

terça-feira, abril 26, 2005

Ratz #2

Ratzinger desenhou linhas na areia e usou os crucifixos à sua mão para projectar a sua ira nos que se atreveram a ultrapassá-las. Os seus esforços para controlar os dissidentes deixaram a igreja ainda mais marcada, mais dividida.
Em Maio de 1985, Ratzinger notificou o Franciscano Leonardo Boff: ele teria que ser silenciado. Bof, brasileiro, era uma figura emergente da teologia da libertação, um movimento teológico do Terceiro Mundo que procura posicionar a igreja no lado dos pobres. Boff aceitou o veredicto de Ratzinger e retirou-se para um mosteiro Franciscano em Petrópolis, para fora do Rio de Janeiro.
Alguns dias mais tarde, um compreensivo bispo brasileiro visitou Boff para lhe fazer uma proposta inédita: Boff devia estudar todos os escritos de Ratzinger, incluindo o Relatório Ratzinger acabado de publicar (uma intervista com um jornalista italiano, na qual Ratzinger dava voz a visões obscuras da igreja e do mundo), e depois avançar com uma denúncia acusando o cardeal de heresia. Seria uma foma teológica de combater o fogo com fogo.
A conversa foi relatada por Harvey Cox, em 1988, no seu livro sobre o caso Boff. De acordo com Cox, Boff disse que não iria sujeitar mais ninguém à inquisição que enfrentou. Contudo, o facto de um bispo católico poder imaginar apresentar acusações de heresia contra um oficial de topo da doutrina – mesmo que fosse mais uma manobra política do que um sóbrio julgamento teológico – ilustra o notável poder de polarização de Ratzinger.

sexta-feira, abril 22, 2005

Ratz #1

O novo papa Ratzinger nasceu na rural Bavária no dia 16 de Abril, há 78 anos atrás.
Quiz o destino que esse dia fosse sábado e os seus pais José e Maria – uma estranha profecia para uma criança que iria tornar-se num austero símbolo de contradição na maior das igrejas cristãs.
Ratzinger foi o arquitecto da Kulturkampf (batalha cultural) interna de João Paulo, intimidando e punindo pensadores de modo a restaurar um modelo de igreja – dogmática e rígida – que muitos esperavam ter sido afastado pelo segundo concílio do Vaticano, a assembleia de bispos de 1962-65 que se propôs a renovar o catolicismo e abri-lo ao mundo. A campanha de Ratzinger é comparável ao rumo anti-modernista de Pio XII, mas é ainda mais desconcertante porque se seguiu a um momento de optimismo e ao início de uma nova vida. Uma espécie de aborto doutrinal.
Ao nível mais básico, e seguramente a muitos católicos, não poderá escapar o sentimento de que o exercício deste poder por Ratzinger não seria o que Jesus tinha em mente.

quinta-feira, abril 21, 2005

Ópio

Devo confessar que fiquei espantado com a notícia de que “técnicos especializados” iriam proceder ao tratamento e manutenção do corpo do Papa.
Mas, se o Papa era de facto um santo, não era suposto o seu corpo ser imune à decomposição daqueles comuns mortais e, como tal, não ser necessário qualquer intervenção que não a divina?

Também não deixam de ser curiosas as semelhanças com o tratamento dado a ícones comunistas de estados totalitários (supostamente o oposto do que o Papa representaria), nomeadamente com Lenin e o seu grandioso masoleu; para mim, são ambos múmias em exibição.

Ópio do povo? Sem dúvida.

segunda-feira, abril 18, 2005


pope Posted by Hello

Absolute Pope

O 25º aniversário do pontificado do Papa foi celebrado com o aplauso de muitos conservadores.
Houve mesmo quem afirmásse que o Papa merecia o Nobel da Paz.
João Paulo II pegou numa instituição que começava a libertar-se das grilhetas de séculos de curteza de espírito e autocracia e tornou-a no que pode ser descrito como uma instituição totalitária.
Em 1958, João XXIII assumiu o papado. Meses depois pediu um “aggiornamiento,” uma “modernização” da igreja. As missas começaram a ser dadas nas línguas nativas. Aos padres, freiras e leigos era dada maior participação e autoridade.
O Papa João convencionou um Concílio no Vaticano que acabou com séculos do que ele chamou de “santo isolamento” incentivando a igreja a participar na luta pela paz e justiça. O Vaticano chamou a esta nova igreja o “Povo de Deus”.
O Papa João XXIII morreu pouco tempo depois da convenção Vaticano II. Mas as reformas que ele iniciou tomaram raiz. Na África do Sul, os católicos desempenhavam um importante papel na resistência ao apartheid. Na América Latina, o fenómeno da ‘teologia da libertação’ levou a igreja até a milhões de pobres agricultores que tinha ignorado durante muito.
Na Europa e América do Norte, as velhas hierarquias estavam a ser desafiadas, mas especialmente a hierarquia de género. Justiça e igualdade eram os temas.
Vinte e cinco anos depois, desapareceu tudo.

João Paulo II participou nas reuniões do Concílio do Vaticano em 1960 e opos-se às mudanças. Assim que tomou o lugar quiz anulá-las. Para conseguir este objective, centralizou fortemente os poderes. As suas intervenções fizeram crescer uma oposição generalizada.
Em 1989, mais de 300 eminentes teólogos europeus, incluindo alguns romanos, assinaram a Declaração de Colónia, que acusava o papa de “passar por cima e forçar de um modo inadmissível” as suas competências no campo do ensino da doutrina. Acusava-o de nomear bispos por tudo o mundo “sem respeitar as sugestões das igrejas locais e negligenciando os direitos estabelecidos.” Descrevia a retirada pelo Vaticano de teólogos qualificados do ensino, porque não gostava do que diziam, como “uma perigosa intrusão na liberdade de pesquisa e ensino.”
Nos anos 80, o teólogo francês Marie-Dominique Chenu afirma-o directamente. João Paulo regride para um “prototipo da igreja como uma monarquia absoluta.” Tal como os monarcas absolutos, o Papa João Paulo II recusa-se a ouvir o povo.
Torna-se ainda mais agressivo. João Paulo II rebusca e amplifica a doutrina da ‘infalibilidade papal’ e beatifica o seu autor, Papa Pio IX. Quando os bispos católicos mundiais se reuniam em Roma, todos os 5 anos, não era para debaterem entre si mas para receber a palavra do papa, e para serem questionados sobre alturas em que poderão ter sido pouco agressivos na defesa da doutrina da Igreja.
João Paulo II rapidamente criou uma linha contra aqueles que viram no Vaticano II uma abertura para democratizar a Igreja. Dentro da Igreja a sua liderança será lembrada como nada além de autoritária.
Em 1979, o teólogo católico suiço Hans Kung, cuja licença para ensinar em instituições católicas foi revogada pelo Vaticano, afirmou que o novo papa, “tinha lançado uma estranha batalha contra as mulheres modernas que procuravam um modo de vida contemporâneo.” Desde então, o papa impediu a discussão da ordenação das mulheres.
Até nos seus últimos dias o papa continuou a defender os seus arcaicos valores na Igreja. Um esboço recente de uma directiva do Vaticano baniria as raparigas do altar, eliminando assim uma das restantes áreas de participação permitida às mulheres. Os padres apenas podem permitir a ajuda de raparigas na missa se receberem uma autorização especial do bispo. Os padres, segundo o esboço, nunca devem sentir-se obrigados a recrutar raparigas.
Esta directiva também iria proíbir os Católicos Romanos de dançar ou até bater palmas nas suas igrejas. Iria proíbir os padres de citarem outros textos, nos seus sermões, que não os evangelhos.
O papa morreu, mas o seu impacto na Igreja irá continuar por muitos anos, porque serviu-se da sua longa e doentia permanência no trono não apenas para alterar o rumo mas para escolher a dedo aqueles que se tornarão os novos líderes da Igreja. O papa João Paulo II foi bem mais activo que os seus antecessores ao rechear a sede e filiais da Igreja com os seus homens.
Em 15 anos, o seu antecessor Paulo VI nomeou apenas 26 novos cardeais, mas em 25 anos o papa João Paulo II nomeou 226. Criou cerca de 500 santos, mais do que todos os papas dos últimos 4 séculos juntos. O papa João Paulo II nomeou mais de 70% de todos os bispos católicos, e todos excepto 5 dos 135 cardeais que irão escolher o seu sucessor.

Sim, de facto foi um papado com “apêgo extraordinário.” Um fardo que irá ser carregado na Igreja Católica por futuras gerações.