sexta-feira, junho 03, 2016

Violência doméstica


Estava eu a preparar-me para dormir ontem à noite, decidi manter uma vigilância apertada à minha mulher. Ainda me dói o olho, e queria ter a certeza que ela não me iria dar outro enxerto. Qualquer pessoa que nos conheça sabe que ninguém irá acreditar que ela me espanca, a não ser que eu tenha começado. E se eu me dirigir à esquadra para apresentar queixa, ainda fico é eu preso ou chamam-me de José Cid para baixo. 

Enquanto me deitava no escuro, temendo o espancamento a caminho, tive um deja vu (é francês). Esta não é a primeira vez que me deito cheio de medo de ser espancado pela minha mulher (e não me refiro a uma forma sexual do acto).

(Isto agora é uma espécie de flashback)

Ainda não éramos casados. Eu era um funcionário público. Uma noite, depois de ver um filme muito mau, entrei na cama de mansinho. Inclinando-me, beijei-a na testa. Ela senta-se na cama e, numa execução perfeita, aplica-me um soco no olho. A mulher que amava e com quem iria casar deu-me um incrível panadão por a ter beijado! Por sorte, ela não é propriamente a Wonder Woman (embora a trocasse de bom grado pela Linda Carter na flor da sua juventude) e não doeu assim tanto, mas o choque foi grande. 

Sem uma palavra, deita-se e adormece. Não a querendo hostilizar, fiquei ali deitado entregue a pensamentos profundos: “Mas que merda foi esta?” Quando chegou a manhã e eu me levantei da cama, a Cátia já tinha saído para trabalhar. Naquele dia fui a casa de um amigo para ajudá-lo com umas coisas. A mulher dele olha para mim e pergunta, “O que aconteceu ao teu olho?” Eu ainda não me tinha visto bem ao espelho nessa manhã, então não é que a bácora me tinha posto um olho negro!

Quando finalmente cheguei a casa, a Cátia estava no computador. Ela viu-me entrar em casa. Com um grande sorriso, levantou-se e deu-me um abraço e um beijo. Eu apontei-lhe o dedo e ergui a voz, “Tu, mantém-te a dez metros de distância de mim!” Ela queria saber porque se tinha que afastar. Eu queria saber porque sentiu ela a necessidade de me esmurrar. Relembro-a da história do olho negro, e o que faz ela? A minha querida e amorosa mulher rebola no chão a rir. Não se lembra de o ter feito. Pelo menos é o que ela diz. Até à noite passada, ela afirma não se lembrar de nada. 

A noite passada, a meio da noite, abana-me, senta-se na cama: “deve ter sido dos nervos.”