Odete Sopa, uma recatada avó de oito
netos a viver em Massamá, noticiou uma mudança de opinião no que toca a odiar
Passos Coelho e as suas políticas liberais.
Ao saber desta história incomum, fiquei intrigado
como é que alguém colado à extrema-esquerda desde 1974, poderia virar a casaca
de forma tão abrupta. Meti-me no carro em direcção a Massamá, onde tive a sorte
de conseguir uma entrevista com a viúva Sopa.
Num encontro algo intimo, rodeado por
bugigangas manchadas pela nicotina de uma vida inteira, a Sra. Sopa explicou
como um único momento de clareza pode transformar o seu confinado lar num hospício.
Ela falou sobre como os seus vizinhos a marginalizaram, como ela foi impedida de
entrar no bingo e que já nem a cumprimentam no talho. Mas pior que tudo, ela
afirma que agora é alvo de um boato acusando-a de ter um amante secreto que é, pois
está claro, negro.
"Agora eu não lhe vou mentir, eu
sou racista desde pequenita," confessou Sopa. "Depois, no outro dia, dei
por mim na outra ponta da sala longe da minha bilha de oxigénio a seguir a ter
fumado um SG Gigante, e se não fosse a minha auxiliar, Latrina Makukula, que
calhou estar ali a ver a Gabriela, eu não tinha conseguido enfiar os tubos de
oxigénio a tempo e já estava a servir de comer às minhocas a esta hora. Foi
então que eu decidi que toda a gente devia ajudar os outros, e se alguém
precisar de ser entubada, quem sou eu para o impedir. E depois ouvi dizer no
autocarro que aquele rapaz do Bloco de Esquerda, o Louçã, prefere deixar as
pessoas ali a morrer do que as pôr ligadas aos tubos. Decidi que vou votar com
a minha consciência em vez das porras com que tenho sido enganada por merdosos
como esse Louçã e mais o Jerónimo de Sousa."
Nesse momento, houve um tumulto lá fora.
Fui até à janela para investigar. Saí para a varanda atafulhada de vasos com gerânios
e begónias exuberantes. Estavam agora em cacos por toda a varanda, as belas plantas
quebradas e em desalinho. Tinha sido toscamente pintada uma
suástica na sua porta.
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