O Governo anunciou hoje planos destinados
a reduzir o número de acidentes rodoviários envolvendo ciclistas. “Nunca antes um governo se
tinha preocupado com a segurança dos ciclistas em Portugal,” afirmou o Secretário
de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações, Sérgio Silva
Monteiro. “O problema tem aumentado de forma significativa. Como tal, temos de
agir para reduzir os riscos. Pretendemos adoptar uma estratégia de segurança nos
próximos três anos proposta pelo shôtor Rui Machete.”
“Seria completamente inútil,”
explicou o Dr. Rui Machete, Ministro de Estado, “tentar introduzir mesmo a mais
básica regulamentação de segurança em relação às bicicletas. Isto já foi
proposto no passado, e teve sempre uma grande oposição dos ciclistas. A perspectiva
de legislação para melhorar a sua segurança foi sempre vista como um ataque às
suas liberdades civis, comparável à invasão da Polónia pelo Hitler. Iremos pois
adoptar uma abordagem alternativa:
A primeira fase envolve a produção
de um novo tipo de veículo rodoviário. Os critérios de design são muito simples:
tem de ser movido apenas pelo condutor, tem de ser capaz de andar a 30 ou 40
km/hora, e tem de ser inerentemente instável. Lançámos um concurso para as
crianças da escolar primária conceberem um modelo. Pensamos que elas o vão
fazer bonito, e o seu grau de conhecimento técnico deverá assegurar que seja
incrivelmente perigoso.
Vamos chamar-lhe "Biclalhães",
e iremos comercializa-los de modo que, ao final do primeiro ano, o máximo
número portugueses e portuguesas tenha pelo menos uma na sua casa.
A legislação relativa aos
Biclalhães irá ser, pois está claro, tão importante como o design da coisa. Qualquer
pessoa de qualquer idade poderá facilmente ter um, e não haverá qualquer exigência,
formação ou licenciamento para o conduzir em qualquer das nossas ruas ou autoestradas.
Também não haverá qualquer equipamento obrigatório de segurança exigido ao
condutor, de qualquer tipo. Poderão haver umas poucas leis a nível técnico, tais
como das luzes para a condução nocturna. Asseguramos, contudo, que todas essas
leis são practicamente inexequíveis e quaisquer penalidades serão irrisórias. Conduzir
um Biclalhães, completamente nu à hora de ponta no Marquês do Pombal e a ouvir música
nos auscultadores, pode levar a uma advertência por atentado ao pudor, mas já
será pouco provável qualquer acção legal em relação à segurança rodoviária.
Os condutores dos Biclalhães
serão também encorajados a ignorar todas as regras de trânsito, particularmente
em relação aos semáforos, passagens de peões, ruas de sentido único e a
distinção entre estrada e passeio. Queremos ver tantos quanto possível nas
estradas à hora de ponta, especialmente nas maiores cidades.
Serão divulgados mais conselhos
na newsletter Kamikaze. Irão incluir técnicas avançadas de condução tais como
ultrapassagens pelo angulo morto dos autocarros seguida de mudança de direcção.
A Kamikaze terá uma página para os adolescentes, encorajando-os a comprar
Biclalhães “hype” (como se diz agora) que sejam ridiculamente pequenas para
eles.”
Os críticos têm argumentado que
os planos para o lançamento dos Biclalhães levarão a uma carnificina nas nossas
estradas, com um enorme número de vítimas de acidentes rodoviários
absolutamente desnecessários.
“Temo que inicialmente seja
esse mesmo o caso,” concedeu o Dr. Machete. “O principal objectivo no segundo
ano da estratégia será documentar todos esses acidentes e fazer recomendações
para aumentar a segurança. Suponho que isso nos leve a propor o mesmo tipo de
regras simples e de senso comum que existem para as motoretas de 50cc. No
terceiro ano da estratégia, o governo irá implementar novas regras e monitorizar
a melhoria radical nas estatísticas de acidentes.
A parte final da estratégia
será discutir toda a nossa experiência do projecto Biclalhães com o lobby dos
ciclistas para explorar quais os paralelos que podem ser traçados, e lições
aprendidas que possam melhorar a segurança dos mesmos."
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