terça-feira, abril 26, 2005

Ratz #2

Ratzinger desenhou linhas na areia e usou os crucifixos à sua mão para projectar a sua ira nos que se atreveram a ultrapassá-las. Os seus esforços para controlar os dissidentes deixaram a igreja ainda mais marcada, mais dividida.
Em Maio de 1985, Ratzinger notificou o Franciscano Leonardo Boff: ele teria que ser silenciado. Bof, brasileiro, era uma figura emergente da teologia da libertação, um movimento teológico do Terceiro Mundo que procura posicionar a igreja no lado dos pobres. Boff aceitou o veredicto de Ratzinger e retirou-se para um mosteiro Franciscano em Petrópolis, para fora do Rio de Janeiro.
Alguns dias mais tarde, um compreensivo bispo brasileiro visitou Boff para lhe fazer uma proposta inédita: Boff devia estudar todos os escritos de Ratzinger, incluindo o Relatório Ratzinger acabado de publicar (uma intervista com um jornalista italiano, na qual Ratzinger dava voz a visões obscuras da igreja e do mundo), e depois avançar com uma denúncia acusando o cardeal de heresia. Seria uma foma teológica de combater o fogo com fogo.
A conversa foi relatada por Harvey Cox, em 1988, no seu livro sobre o caso Boff. De acordo com Cox, Boff disse que não iria sujeitar mais ninguém à inquisição que enfrentou. Contudo, o facto de um bispo católico poder imaginar apresentar acusações de heresia contra um oficial de topo da doutrina – mesmo que fosse mais uma manobra política do que um sóbrio julgamento teológico – ilustra o notável poder de polarização de Ratzinger.

Sem comentários: